Entre a terra e a ciência: estudantes da UCM unificam saberes de cura em Lichinga

Lichinga (O Destaque) – Numa iniciativa que fundiu o saber ancestral e o rigor académico, o campus da Faculdade de Gestão de Recursos Florestais e Faunísticos (FAGREFF) da Universidade Católica de Moçambique (UCM) transformou-se, num autêntico laboratório vivo de Antropologia da Saúde. Sob o lema “Entre a Raiz e o Laboratório”, estudantes do curso de Administração e Gestão Hospitalar provaram que a cura, mais do que uma técnica, é uma ponte entre culturas.

A feira de exposição de medicina tradicional, que reuniu 37 estudantes da turma única de 2025, não foi apenas um exercício académico, mas um manifesto de valorização cultural. Sob a orientação do Mestre Arnaldo Ângelo Sondiua, a exposição apresentou soluções terapêuticas para patologias que desafiam o quotidiano das comunidades moçambicanas, como a diabetes, infecções renais, asma, hipertensão e feridas de difícil cicatrização.

A organização estética e técnica chamou a atenção dos visitantes: cada fármaco artesanal estava devidamente rotulado, identificando a patologia e o modo de administração, num esforço de profissionalização que aproxima o “curandeiro” do “farmacêutico”.

O cerne do evento residiu na desconstrução do preconceito. O Mestre Sondiua, na abertura do certame, instou os futuros gestores hospitalares a um “envolvimento responsável”, sublinhando que a gestão de saúde em Moçambique não pode ignorar a realidade do sistema tradicional.

A feira evidenciou uma conclusão consensual entre os participantes: a medicina tradicional e a biomedicina não são rivais, mas sistemas complementares. Se, por um lado, o laboratório moderno oferece a precisão tecnológica, por outro, a “raiz” detém respostas eficazes para enfermidades que a ciência convencional ainda tenta descodificar.

É urgente uma abordagem complementar, respeitosa e humilde. Ambos os sistemas partilham o mesmo destino: o bem-estar do paciente,” defendeu a organização do evento.

O encerramento da actividade foi marcado por um tom de optimismo e desafio. Ao avaliar o desempenho do grupo composto por nomes como Adalberto Francisco, Ana Chilunzo, Viviana Mondlane e outros 34 colegas com vasta experiência na área da saúde o corpo docente enalteceu o esforço de investigação.

Mais do que uma nota académica, a feira deixou uma semente para o futuro da saúde pública na província de Niassa e no país: a ideia de que o hospital do futuro deve saber dialogar com a sabedoria que brota da terra, elevando a medicina tradicional a um patamar de dignidade e rigor científico, longe do estigma e do misticismo infundado

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