Mito Albino finge demência e evita responder sobre escândalos que o envolvem

O ministro da Agricultura, Ambiente e Pescas, Roberto Mito Albino, recusou-se a prestar esclarecimentos sobre os escândalos que mancham a sua imagem e geram dúvidas quanto à integridade do Governo. O episódio ocorreu à margem do Workshop Nacional sobre o Sector Avícola, realizado a 29 de Outubro, em Maputo, onde o governante foi confrontado pela imprensa e optou pelo silêncio.

O primeiro caso prende-se com um concurso público promovido pelo Instituto de Algodão e Oleaginosas de Moçambique (IAOM) para a criação de uma plataforma digital das cadeias de valor do algodão e das oleaginosas. O concurso foi ganho pela Future Technology of Mozambique, empresa criada em Abril de 2025 e alegadamente ligada ao próprio ministro. O processo foi suspenso pelo Tribunal Administrativo, depois de surgirem suspeitas de conflito de interesses e favorecimento indevido.

O segundo escândalo envolve o abate ilegal de madeira numa área de 50 hectares, alegadamente ordenado por Mito Albino quando ainda dirigia a Agência de Desenvolvimento do Vale do Zambeze. A operação, segundo denúncias, beneficiou a empresa Ecofarm e resultou no corte de cerca de 20 metros cúbicos de madeira.

Questionado pelos jornalistas, o ministro limitou-se a responder: “Não sei de que está a falar, minha querida. Eu estive aqui muito concentrado na produção avícola. Se quiser falar sobre outras coisas que não sejam da avicultura, vamos arranjar um tempinho e podemos falar.” A insistência dos repórteres foi travada pelo assessor de imprensa, Delfino Guila, que encerrou a conferência alegando que o ministro tinha uma reunião.

A atitude do assessor, no entanto, gerou indignação. Guila já foi apontado pelo Centro de Integridade Pública (CIP) como protagonista de práticas lesivas ao Estado, incluindo sonegação fiscal. Segundo o CIP, enquanto assessor do então ministro Celso Correia, acumulou funções como consultor do Fundo Nacional de Desenvolvimento Sustentável (FNDS), recebendo 55 mil dólares norte-americanos sem declarar devidamente os rendimentos ao fisco, o que resultou numa perda de 614 mil meticais para o Estado.

Apesar das provas apresentadas, não há registo de qualquer acção judicial contra Guila. O CIP considera o silêncio das autoridades uma forma de cumplicidade e recorda que a Lei n.º 15/2002 prevê penas de dois a oito anos de prisão para este tipo de infracção. Ainda assim, o assessor mantém-se em funções, próximo do poder político e sem qualquer responsabilização pública.

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