Morte de cidadão em Salamanga: administração do parque garante que não houve assassinato

Maputo (O Destaque) -A localidade de Salamanga, na província de Maputo, vive dias de extrema tensão. Um incidente trágico, ocorrido na madrugada do passado dia 24 de Dezembro, resultou na morte de um jovem pelas mãos de agentes de fiscalização da Reserva Especial de Maputo. O caso, que já culminou na detenção de três fiscais, levanta suspeitas de uma execução sumária precipitada.

De acordo com o relato minucioso de uma testemunha ocular, que falou sob condição de anonimato, a vítima vinha sendo alvo de pressões por parte da fiscalização há cerca de um mês, após a apreensão da sua viatura. A família contesta as alegações de caça ilegal e aponta para um cenário de perseguição.

O chefe dos fiscais ligava insistentemente para o jovem. Exigia o pagamento de valores monetários para que ele não fosse recolhido à cela”, afirma a moradora. Na noite de 23 de Dezembro, terá ocorrido o último contacto intimidatório. Às 5 horas da manhã seguinte, uma viatura cercou a casa da vítima. Ao tentar sair pela janela, temendo uma detenção arbitrária, o jovem foi alvejado mortalmente.

Na pressa de remover o corpo para a morgue, os agentes deixaram para trás uma prova comprometedora: um rádio de comunicação oficial, encontrado dentro da casa da vítima, que agora serve como evidência central da invasão domiciliária.

Abordado para esclarecimentos, o Departamento de Comunicação da Reserva Especial de Maputo optou por uma postura evasiva. “Não podemos avançar detalhes neste momento. O caso está sob alçada das autoridades competentes e devemos aguardar o desfecho dos procedimentos legais”, limitou-se a dizer um representante da instituição.

Todavia, as contradições no seio da administração do Parque são evidentes. Enquanto vozes da gestão tentam rotular a vítima como “caçador furtivo” para justificar o uso da força, o comando da fiscalização, em sede de reunião comunitária, terá tentado distanciar-se da acção, alegando que os fiscais agiram por iniciativa própria, à margem das ordens superiores.

A revolta da comunidade de Salamanga forçou a intervenção imediata da Polícia da República de Moçambique (PRM). Os três fiscais envolvidos na operação foram detidos e transferidos para o Comando Distrital para garantir a sua segurança e a integridade do processo.

Enquanto a Administração do Parque assumiu às responsabilidades civis imediatas, como o apoio fúnebre ou a assistência aos dependentes da vítima, a população aguarda pelo julgamento, previsto para Março de 2026. O rádio abandonado no local do crime permanece, por agora, como o testemunho mudo de uma operação que, para os residentes, foi movida pela ganância e não pela lei.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *