Maputo (O Destaque) -Sob um sol que aquecia a capital moçambicana, Maputo celebrou o Dia do Trabalhador com uma energia. A tradicional marcha pela Praça dos Trabalhadores ecoou com cânticos e cartazes, onde milhares de vozes se uniram para expressar tanto o orgulho pela sua força de trabalho quanto as preocupações persistentes que afectam o cotidiano.
No epicentro das celebrações, Alexandre Munguambe, secretário-geral da Organização dos Trabalhadores Moçambicanos – Central Sindical (OTM-CS), depositou uma coroa de flores, um gesto simbólico que precedeu um discurso contundente. Munguambe pintou um retrato desafiador da realidade laboral moçambicana, onde o “crônico problema do alto custo de vida” continua a asfixiar a maioria da população. A morosidade na efetivação da retirada do IVA sobre bens essenciais e a persistência de preços elevados foram pontos centrais de sua crítica.
A OTM-CS também manifestou forte descontentamento com a decisão da Confederação das Associações Económicas de Moçambique (CTA) de adiar para agosto o debate sobre o aumento salarial. Munguambe, embora reconhecendo as dificuldades enfrentadas por algumas empresas, sublinhou a urgência de medidas que aliviem o peso financeiro sobre os trabalhadores. A questão dos contratos precários, utilizados por alguns empregadores como forma de evitar obrigações trabalhistas, e a alegada inflexibilidade do governo em relação à lei sindical na função pública também foram levantadas como obstáculos a serem superados.
Apesar das reivindicações, a marcha dos trabalhadores transbordou uma atmosfera de união e esperança. Faixas e cartazes clamavam por salários justos, condições de trabalho dignas e respeito aos direitos laborais. Jaime Kibe, um trabalhador da Teixeira Duarte, expressou um sentimento compartilhado ao apelar por maior transparência na distribuição da riqueza e um maior envolvimento dos trabalhadores nas decisões.
A situação delicada da Linhas Aéreas de Moçambique (LAM) também ecoou entre os manifestantes, com apelos por um combate rigoroso à corrupção e pela urgente recuperação da frota, essencial para a mobilidade e conectividade do país.
Nem só de reivindicações se fez o dia. Colaboradoras do Hospital Central de Maputo, mesmo reconhecendo as dificuldades salariais, demonstraram um profundo senso de vocação e compromisso com o bem-estar dos pacientes. Crianças, com a sua espontaneidade, também marcaram presença, oferecendo um toque de optimismo e reconhecimento ao esforço dos trabalhadores.
Enquanto a jornada festiva chegava ao fim, a mensagem era clara: o Dia do Trabalhador em Maputo foi um palco onde as dificuldades foram expostas, mas a esperança e a união da classe trabalhadora permaneceram como a força motriz para a construção de um futuro mais justo e próspero. Um funcionário da Auto Gás resumiu o sentimento geral, apelando à revisão salarial como medida crucial para mitigar os impactos das recentes turbulências no mercado de trabalho.
E os dísticos eram o centro das palavras.
