Especialistas dizem “irrisório” à proposta dos 49 meticais de salário, pois não faz “sorrir” a cesta básica.

Maputo (O Destaque) –A proposta de aumento salarial de 49 meticais, apresentada pela Organização dos Trabalhadores de Moçambique (OTM), lançou um debate acalorado e levantou sérias dúvidas sobre a sua coerência com a realidade económica do país. A questão, que aguarda aprovação em sessão de ministros, ganhou repercussão no jornal O Destaque, que deu voz a especialistas das áreas económica e jurídica.

Segundo analista, a Falta de Produção Limita Avanços

O economista Arsénio Zunguza, em entrevista a O Destaque, defende que não há espaço para grandes avanços salariais neste momento. Para ele, a economia moçambicana, ainda em fase de recuperação, não tem capacidade para suportar aumentos significativos.

O primeiro trimestre não se produziu. Temos que estar minimamente recuperados, talvez, no terceiro trimestre”, afirma Zunguza.

Ele argumenta que as empresas ainda não têm capacidade para fazer alterações justas e que a situação é agravada por fenómenos como a crise pós-eleitoral e os ciclones, que limitam a produção. Embora admita que o aumento de 49 meticais possa ter um impacto “pouco significativo”, Zunguza reforça a sua tese: os indicadores económicos precisam melhorar antes que se possa pensar em ajustes salariais substanciais.

No campo jurídico, a advogada Adila Omar e outro especialista em direito questionam a validade da proposta. Para Adila, a quantia é “irrisória” e não reflecte o poder de compra do trabalhador, que continua a ter dificuldades para adquirir produtos da cesta básica.

Já o segundo especialista, em sua análise, aponta para a Constituição da República, que garante o direito a uma remuneração justa. Ele argumenta que um aumento “meramente simbólico” como o de 49 meticais pode colidir com o princípio da dignidade da pessoa humana e o dever de progressão remuneratória previsto na Lei do Trabalho.

Segundo o jurista, a aprovação de tal aumento poderia ser juridicamente contestada, mas seria necessária a comprovação de que o valor é insuficiente e que a economia do país permitiria aumentos superiores. “Não basta a observância formal do procedimento impõe-se que o resultado tenha densidade material suficiente para salvaguardar condições de vida condignas do trabalhador”, conclui o especialista.

A “batata quente” sobre o aumento salarial está nas mãos do governo, que terá de ponderar entre a capacidade económica do país e o direito do trabalhador a uma vida digna.

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