Nampula (O Destaque) −O consumo de bebidas alcoólicas tradicionais, como a otheka (feita à base de mapira), tem crescido exponencialmente em várias comunidades de Nampula. O que antes era uma prática cultural, agora se transformou em uma questão social preocupante, com relatos de impactos devastadores na vida familiar e comunitária.
Na área de Mukhurua, no bairro de Napipine, a situação é particularmente alarmante. Mulheres, muitas delas mães, estão dedicando longas horas ao consumo da otheka, negligenciando suas responsabilidades domésticas e o cuidado com os filhos. Moradores locais, como Maria Jaime, expressam profunda preocupação com o cenário: “É frequente ver mulheres embriagadas desde as 6h da manhã até às 17h, sem cozinhar ou cuidar de suas casas. Encontramos crianças chorando de fome porque a mãe está bebendo.”
Essa dedicação excessiva ao consumo da bebida tem sido apontada como uma das principais causas do aumento de divórcios na região. Leonardo Fernando, outro residente, relata que muitas mulheres casadas chegam aos locais de venda sem dinheiro, dependendo de homens “de boa vontade” para pagar suas bebidas. “Recentemente, presenciamos uma briga entre um casal porque a mulher usou o dinheiro do almoço para comprar otheka”, afirma.
Para algumas mulheres, o consumo da otheka parece ser uma forma de escape das dificuldades do dia a dia. Lídia Manuel, que é tanto vendedora quanto consumidora da bebida, admite que bebe para “esquecer muita coisa que a apoquenta“. Ela expressa o desejo de parar, mas sente-se presa à situação pela falta de alternativas e oportunidades.
A problemática do consumo excessivo de otheka em Nampula transcende a simples recreação, revelando uma complexa teia de desafios sociais e econômicos. A situação exige atenção das autoridades e da sociedade civil para mitigar os impactos negativos nas famílias e comunidades afectadas.
