Maputo (O Destaque)- Numa análise contundente do conflito em Cabo Delgado, o jornalista e autor Armando Nhatumbo lançou, na última quarta-feira(09), a obra literária “A Guerra em Cabo Delgado para Além da Propaganda Governamental”. O livro, segundo o autor, busca desvendar o dia- a- dia da guerra, a ascensão da insurgência e apresentar testemunhos e relatos reais que colidem com a versão oficial do governo.
Nhatumbo critica o que considera negligência inicial do governo, afirmando que, “o conflito acabou tomando rumos que o próprio governo não podia controlar”. A chegada de forças estrangeiras, para o autor, evidenciou a gravidade da situação.
Em entrevista ao O Destaque,durante o lançamento, Nhatumbo destacou que sua experiência em Cabo Delgado se distancia das “narrativas oficiais do governo”. Ele denunciou ataques a jornalistas por parte das forças armadas e questionou a discrepância entre os relatos de controle governamental e a realidade no terreno, onde insurgentes ocuparam cidades como Mocímboa da Praia e Palma. “O terrorismo não vai terminar amanhã, nem na próxima semana”, sentenciou o autor, acreditando que a narrativa governamental visa “não fragilizar a potência das nossas forças de defesa e segurança”.
O autor também abordou a questão dos “naparamas”, grupos de autodefesa que, segundo ele, foram inicialmente “apadrinhados pelo estado”. Ele alertou para o risco de tais grupos desafiarem o Estado, “sempre foram apoiados pelo estado”. Quanto a um possível fim do conflito, Nhatumbo foi frio em responder: “não basta ter gosto, tem que tomar medidas arrojadas, e é preciso atacar os problemas de fundo, e não há respostas até hoje, então a guerra não vai terminar assim”.
O autor relatou ainda abusos das forças armadas contra a população local, que, segundo ele, passou a preferiram a presença de forças estrangeiras, como as de Ruanda, que demonstraram uma abordagem mais “afável”. “Não há guerrilha vencida enquanto se hostiliza as comunidades”, afirmou Nhatumbo.
Joana Martins, participante do evento, elogiou a coragem do autor em apresentar uma narrativa alternativa sobre o conflito, que “fustiga desde 2017”. Ela alertou para a complexidade do terrorismo, que “tem muitas caras e não só em Cabo Delgado, mas existe em outras regiões”, e destacou a importância da gestão dos recursos naturais para a estabilidade da região. “Se eles existem não podem ser uma maldição. Deve se avaliar e promover através deles a todos”, sentenciou.
O lançamento do livro ocorre em um momento de preocupação com relatos de ataques de supostos “naparamas” no centro do país. Nhatumbo alertou o governo para que não ignore essas forças e tome medidas urgentes para evitar que a situação saia de controle.
