Maputo (O Destaque) – O recente filme entre a multinacional Mozal e o Governo tem alimentado debates acesos sobre soberania económica, interesses políticos e o real impacto das grandes empresas estrangeiras no país. Depois da Mozal ameaçar abandonar Moçambique caso não continue a receber energia exclusivamente da HCB, reacendeu-se a discussão sobre o lugar da empresa no desenvolvimento nacional.
A postura da Mozal, que se recusa a adquirir parte da energia da África do Sul como proposto para aliviar a carga da HCB, foi duramente criticada por vários sectores. O Presidente da República afirmou que o Estado não irá ceder à chantagem, pois isso colocaria em risco a estabilidade da Hidroeléctrica de Cahora Bassa. Em apoio, o porta-voz do Governo, Inocêncio Impissa, reforçou que os contratos com a Mozal devem ser revistos, argumentando que os seus ganhos fiscais não se traduzem em grandes margens para o Estado.
A Confederação das Associações Económicas (CTA) também se manifestou, considerando “uma falta de respeito” a atitude da empresa, que pode fragilizar o tecido empresarial nacional.
O jornal O Destaque ouviu o analista Edson Massingue, que considera que, embora o Estado tenha interesse em manter a Mozal em funcionamento, é tempo de rever a tributação:
“Se nos permitirmos esse tipo de chantagem, de uma empresa que faz acima do PIB do país…”, alertou.
Massingue vai mais longe, revelando que a empresa já foi rejeitada em vários países africanos e que o seu impacto ambiental em Moçambique tem custos elevados:
“Nós pagamos mais caro com a poluição do meio ambiente.”
Segundo o analista, há “interesses particulares” por detrás da protecção que a Mozal parece receber:
“Quem detém são os do poder político, são pessoas do partido.”
Para Massingue, ceder à Mozal seria um erro estratégico:
“A Mozal já vem ganhando milhões de dólares, a Mozal não é vítima, o Estado é que é vítima.”
O especialista defende ainda que a empresa tem responsabilidades sociais e económicas a cumprir e que é necessário aplicar com firmeza as políticas públicas:
“Temos que pôr em prática as políticas de tributação fiscal”.
Por fim, deixa um alerta à governação: “O Estado deve urgentemente criar manobras de sustento para não comprometer a soberania.”
