A rainha da estrada mostra que não se bate em mulher, que consegue andar na tenebrosa N1

Maputo (O Destaque) – No universo predominantemente masculino do transporte de carga, Soafelina Almeida, de Maputo, aparece como uma das muitas mulheres de resiliência e determinação. A mulher que sonhava em ter “um carruzito” após 13 anos de trabalho doméstico, ousou muito mais: abraçou a profissão de caminhoneira, ou como se autodenomina com orgulho, rugido à da estrada.

A transição de vendedora, produtora de carvão e, por fim, doméstica, para motorista de pesados não foi um caminho planeado, mas sim um impulso de quem se recusa a parar perante a vulnerabilidade e o desemprego. Depois de perder o último emprego como doméstica, e de tentar sem sucesso pequenos negócios, o destino levou-a a uma transportadora.

“Eu venho pedindo abraço, aqui não tem panelas, não tem roupa para você lavar,” recorda a sobre o seu primeiro contacto, onde teve de quebrar a incredulidade inicial.

 A sua persistência foi recompensada: passou no teste, assinou o contrato e começou a trabalhar.

Os primeiros dias foram marcados pelo cepticismo, com muitos a questionar a sua presença: “Ser mulher, ser mulher,” era o comentário constante. Hoje, Felina usa a sua experiência para motivar outras mulheres.

Mamães, não tenham receio, não tenham vergonha, venham ser profissionais, é muito bom. Andando de caminhão, andando de um carro pequeno, é totalmente igual. O que se quer é a sua cabeça, saber o que você quer, o que você quer fazer durante a viagem. E ter aquela nossa responsabilidade como mulheres,” sublinhando que o trabalho é só para homens.

A “soafelina” da estrada não se limitava às rotas fáceis. No auge da sua carreira, percorreu os longos e perigosos troços que ligavam África do Sul a Cabo Delgado, rodando por quase todo o país e além-fronteiras.

A vida de caminhoneira, porém, cobrou o seu preço. Soafelina relata dois dias pioresque a marcaram profundamente. O primeiro, em Moçambique, viu-se obrigada a trocar dois pneus sozinha no Norte, num local pântano e sem ajuda.

Mas o incidente mais traumático aconteceu na África do Sul. Uma avaria forçou-a a ficar uma semana na estrada, à espera de socorro. Quando finalmente o camião foi rebocado, e ela ficou à espera noutra paragem, foi assaltada durante a noite.

Esse foi o pior. Apenas fizeram o que fizeram no caminhão, mas não foi fácil. Ih, esse dia nem quero pensar,” desabafa.

O susto e a exaustão emocional desse assalto levaram-na a adoecer e a repensar o seu futuro na estrada. Actualmente, Felina encontra-se a trabalhar em Maputo, em rotas locais, uma decisão tomada por motivos de saúde e segurança.

 Soafelina destaca a paciência como fundamental no relacionamento com os patrões. Reconhece que, em caso de avaria ou incidente, a primeira reação é de desconfiança, mas insiste na responsabilidade do motorista.

Não é tão fácil, mas… Antigamente fazia África do sul Cabo Delgado,  fazia quase tudo, girava tudo, sim”.

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