Após reportagem do Jornal O Destaque família reconhece idosa que foi levada na época da “Operação Produção”

Maputo (O Destaque) – A comovente história de Laurinda Tembe, de 67 anos, vítima de deslocação forçada durante a controversa “Operação Produção” na década de 1980, ganhou um capítulo de esperança e reconciliação. Após a divulgação da reportagem pelo Jornal O Destaque, a família de origem da idosa, residente em Salamanga, distrito de Matutuíne, confirmou a sua identidade e a ligação directa à linhagem do régulo Tembe.

O reconhecimento familiar é o primeiro e fundamental passo para concretizar o maior desejo de Laurinda: o seu regresso à casa, pondo fim a um “exílio” que dura quase meio século e que a mantém a mais de 2.000 quilómetros de distância, na província do Niassa.

O Trauma da Operação Produção

Laurinda Tembe, nascida a 29 de Dezembro de 1956, foi uma das milhares de pessoas que, nos anos 80, foram coercivamente retiradas das áreas urbanas de Maputo e enviadas para as zonas rurais do Niassa, no âmbito da política estatal conhecida como “Operação Produção”. Este programa, implementado pelo então Governo de Samora Machel, visava realocar a população urbana para promover a produção agrícola, mas resultou em traumas profundos, na separação de famílias e na perda de identidades.

Hoje, aos 67 anos, a idosa reside sozinha em Mandimba, Niassa, e as suas condições de vida são extremamente precárias.

Longe dos seus, ela sobrevive com enormes dificuldades, enfrentando escassez de alimentos e debilidade física.

Num desabafo que espelha o sofrimento acumulado ao longo de décadas, dona Laurinda relatou: “Já não tenho forças, passo mal, não me alimento bem”, expondo o rosto da solidão e da privação que marcou a sua vida desde a juventude.

A Confirmação em Salamanga

A reportagem de O Destaque serviu como catalisador para o reencontro. A comunidade de Salamanga, onde Laurinda foi criada pela sua avó materna, legitimou a sua história. O reconhecimento de que ela é um membro da família do régulo Tomás Tembe, uma figura histórica e respeitada na localidade, é uma confirmação crucial para a sua identidade.

Esta aceitação pública e familiar inicia um processo de reconciliação que transcende o âmbito pessoal, sendo um símbolo do esforço de cura das feridas deixadas pelo passado político do país. A família já se mobiliza para assegurar os meios logísticos e financeiros necessários para devolver a idosa do Niassa para o seu lar ancestral em Matutuíne.

Apelo de Solidariedade

Perante a complexidade e os elevados custos de uma viagem que atravessará o país, a família de dona Laurinda lançou um apelo à solidariedade. O objectivo é angariar fundos que não só cubram as despesas de deslocação, mas que também permitam a aquisição de uma “cesta básica” e assegurem o seu bem-estar nos últimos dias de espera pela viagem de Mandimba para Maputo.

Aos dispostos em ajudar, podem contactar o Jornal O Destaque através do número: +258 86 88 88 656

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