Nampula (O Destaque) – A rotina matinal em Nampula tem sido ditada por longas filas e pela incerteza. A escassez de combustíveis, que se arrasta desde março, atingiu proporções críticas na província mais populosa do país, transformando postos de abastecimento em pontos de encontro noturnos para cidadãos desesperados.
Gildo Alberto, taxista, resume a frustração de muitos: “Estou aqui desde as 4 horas da manhã e até agora, 9 horas, não consegui comprar combustível… O combustível está caro e também não há.” A busca por combustível tem consumido horas preciosas do dia de trabalho de muitos, como Mário Inácio, operador de mototáxi, que lamenta a queda no número de clientes em meio à crise. “É muito preocupante para nós que somos taxistas… não tem sido fácil, não há clientes“, desabafa.
Diante da dificuldade em encontrar combustível nos canais oficiais, um mercado informal floresceu. Cidadãos comuns tornaram-se revendedores, comercializando o produto a preços inflacionados e, por vezes, em condições de armazenamento questionáveis. Amade Bernardo, técnico de saúde, viu na revenda uma oportunidade de complementar a renda: “Compramos nas bombas a 90 meticais por litro e revendemos entre 110 e 120… usamos latas específicas para armazenar e depois distribuímos em garrafas.” Um litro de gasolina, que oficialmente custa 85,82 meticais, chega a ser vendido por até 300 meticais no mercado paralelo.
A crise tem gerado um sentimento de desigualdade entre a população, com relatos de que veículos governamentais e de empresas ligadas ao Estado recebem prioridade no abastecimento. Miguel Amorim, gestor da bomba Eco, refuta as alegações, afirmando que os contratos com clientes institucionais são cumpridos sem favorecimentos. “Em princípio, não é bom priorizar o Governo. Nós, como empresa, temos contratos firmados com os nossos clientes e, em nenhum momento, devemos falhar no cumprimento desses compromissos”, assegura.
A promessa de solução feita há duas semanas pelo governador de Nampula, Eduardo Mariano Abdula, de que o combustível já havia chegado e aguardava distribuição, ainda não se concretizou. “Neste momento, trata-se apenas de questões de descarga. Mas, segundo me informaram ainda hoje, a gasolina começará a estar disponível“, disse o governador em 29 de abril.
A persistência da escassez tem levado a manifestações como a organizada pela Koshukuro no último sábado. Gamito dos Santos, activista social e director-executivo da organização, critica a falta de comunicação oficial por parte das autoridades. “Os governantes acham que só temos deveres, mas nunca temos direitos. Não podemos ressuscitar uma instituição pública para vir a público explicar o que se está a passar. E é hábito dos governantes deste país não dizerem nada em casos de crise“, lamenta o activista, ecoando o desejo da população por respostas claras e acções efectivas para normalizar o abastecimento de combustíveis em Nampula.
