Há supostos favores sexuais na UniRovuma, mas direcção diz que “sem provas não há como avançar para responsabilização”

Niassa (O Destaque) –Um escândalo de grandes proporções chocantes abala a Universidade Rovuma (UniRovuma) Extensão de Lichinga, após a formalização de uma denúncia que aponta para um alegado sistema de corrupção generalizada e assédio sexual que estaria a destruir a vida académica de dezenas de estudantes.

Segundo a denúncia recebida em nossa redacção, a aprovação em disciplinas na UniRovuma estaria a ser negociada por “valores ilícitos”, transformando a universidade num mercado negro de notas. Estudantes que não cedem aos pagamentos ou subornos seriam sistematicamente reprovados, chegando a repetir disciplinas por dois ou mais anos, independentemente do seu desempenho real.

A extorsão, contudo, vai além do dinheiro. Os indícios são de que a reprovação é usada como táctica para forçar as estudantes a aceitar propostas indevidas e assédio sexual.

A denúncia não poupa o sistema. Casos de falhas nas notas ou nas matrículas, que deveriam ser resolvidos institucionalmente, estariam a ser explorados pelo Registo Académico. Estudantes que recorrem ao serviço para corrigir erros são confrontados com exigências de pagamento extra-oficial para que a sua situação seja “resolvida”. Quem não paga, é “desencorajado e até aconselhado a desistir”, por alegada incapacidade de resolver o bloqueio.

A arbitrariedade na avaliação, a falta de resposta institucional a cartas formais e a criação de um ambiente hostil e corrupto são apontadas como a principal causa de um número elevado de desistências na UniRovuma.

O verdadeiro objectivo da universidade é garantir qualidade de ensino e formar profissionais competentes está comprometido, sendo substituído por práticas corruptas que desvalorizam os diplomas e o esforço dos estudantes”, lamenta a denúncia.

Para a denúncia, o ambiente académico em Lichinga transformou-se num “espaço de sobrevivência” onde a dignidade e a integridade dos alunos são ignoradas, com graves consequências psicológicas e sociais. A investigação em curso promete agitar os corredores da universidade e poderá revelar uma rede de corrupção ainda maior.

Na sequência de denúncias recebidas por O Destaque, que apontam para alegados casos de assédio e atrasos burocráticos no processo de defesa de trabalhos finais na UniRovuma-Niassa, a equipa do jornal O destaque contactou a direcção da instituição para obter esclarecimentos.

A directora do polo universitário, Alice Freia, negou que a direcção tenha sido formalmente abordada pelas partes envolvidas. “Não vieram falar connosco sobre essas denúncias, não é verdade que recebemos carta, não recebemos”, afirmou.

Em relação às alegações de assédio, Freia foi categórica: “Eu não falo sem provas, esses estudantes falam sem provas”. Questionada sobre o alegado silêncio da instituição perante as denúncias, respondeu: “Não se faz nada sem provas, não podemos agir sem tal. Que eles tragam provas e vai-se agir”.

Sobre a abertura de um eventual inquérito, a responsável reiterou: “Sem provas, não existe nada”.

Quanto a possíveis dificuldades no sistema académico, a directora esclareceu: “Existe o registo académico em Nampula”.

Relactivamente a estudantes oriundos de outras províncias que alegam ter os seus processos parados, Freia negou qualquer intenção de prejudicar os alunos: “Nenhum estudante apareceu com provas, não temos vontade de reter estudantes”.

A directora foi mais longe ao comentar a forma como as denúncias estão a ser feitas: “É muito complicado falar de problemas sem provas, e ainda em anonimato. Não é interesse da instituição manter corruptos”.

Por fim, reconheceu que o medo de retaliação pode estar a impedir os estudantes de se pronunciarem abertamente: “Eles temem represálias, é difícil trabalhar assim, mas posso compreender. Nós estamos a trabalhar para resolver. Não é interesse da instituição que os estudantes sejam assediados, e quem pode nos ajudar são os estudantes”.

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