Cabo Delgado (O Destaque) – O terror voltou a bater à porta do distrito de Chiúre, na província de Cabo Delgado. Dezoito membros da milícia local, denominados Naparamas, perderam a vida numa emboscada brutal protagonizada por terroristas, na segunda-feira (28), nas redondezas da aldeia Melija.
Os Naparamas estavam no encalço de um grupo de insurgentes quando caíram numa armadilha mortal.
Os terroristas ao darem conta da perseguição, inverteram o jogo e surpreenderam os milicianos, dizimando-os de forma violenta.
Fontes locais relataram que até quarta-feira (30), os corpos das vítimas ainda permaneciam no mato, à espera de recuperação pelas autoridades ou familiares, para a realização dos funerais.
A situação tem deixado um manto de dor e revolta nas comunidades de onde os combatentes populares eram originários.
Há também registo de vários feridos — alguns em estado crítico — que estão actualmente internados no hospital de Chiúre-sede, recebendo cuidados médicos.
Moradores da vila de Chiúre afirmam que, desde terça-feira (29), circulam informações sobre a morte dos Naparamas, muitos dos quais oriundos das aldeias dos postos administrativos de Ocua e Catapua.
O Governo através Ministro da Defesa Nacional, Cristóvão Chume, confirmou, essa quinta-feira, em conferência de imprensa, o escalar da violência armada na região.
De acordo com Cristóvão Chume, os terroristas têm furado zonas anteriormente consideradas seguras, causando destruição, mortes e deslocações em massa.
Estima-se que entre 11 a 12 mil pessoas tenham abandonado as suas casas nos últimos dias, na sequência dos ataques que também afectaram partes do distrito de Ancuabe.
Algumas Organizações Não-Governamentais (ONG’S), como é o caso do Instituto de Psicologia Paz de Moçambique estimou em cerca de 47 mil o número de deslocados internos com a onda de novos ataques na província de Cabo Delgado.
Num relatório divulgado pela ONG consultado pela “Lusa”, refere que a maioria dos deslocados concentra-se no distrito de Chiúre, que abriga 42.411 pessoas de 10.075 famílias.
Os distritos de Muidumbe e Ancuabe também acolhem deslocados, com 2.310 e 1.946 pessoas, respetivamente, indica-se no documento.
Elementos associados ao grupo extremista Estado Islâmico reivindicaram um ataque, em 24 de julho, à aldeia e ao posto policial de Chiúre Velho, no sul da província de Cabo Delgado, com armas automáticas, levando material do seu interior.
O documento da organização aponta para a possibilidade de estes números continuarem a aumentar, devido aos ataques de 28 de julho nas aldeias de Namahapa e Melija (Ocua).
Nos últimos dias há registo de incidentes, com ataques, mortos, rapto de camponeses e populações em fuga também em aldeias do distrito de Ancuabe e no posto administrativo de Ocua.
No relatório do Instituto de Psicologia Paz de Moçambique indica-se que 262 famílias receberam kits de assistência no Centro de Transição de Micone, Chiúre, onde foi realizado um rastreio nutricional, sobretudo em menores de idade. No centro de Namicir, a colaboração entre várias organizações, como o Programa Alimentar Mundial, a Organização Internacional para as Migrações (OIM) e o Unicef, beneficiou “800 famílias”, refere-se no mesmo documento.
A província de Cabo Delgado, no norte do país, rica em gás, enfrenta desde 2017 uma rebelião armada, que provocou milhares de mortos e uma crise humanitária, com mais de um milhão de pessoas deslocadas.
