Angola (O Destaque) – capital angolana, Luanda, viveu momentos de terror na semana passada, com protestos contra o aumento do preço dos combustíveis a mergulharem a cidade num cenário de caos.
Os tumultos que resultaram em dezenas de mortos e feridos, foram marcados por atos de vandalismo e pilhagem que deixaram um rasto de destruição e comprometem agora a distribuição de alimentos.
A convocação inicial dos taxistas era para uma greve pacífica, pedindo que a população permanecesse em casa. Contudo, a situação rapidamente escalou para confrontos e pilhagens generalizadas. Comerciantes e empresários, especialmente os pequenos negócios que operam sem incentivos e créditos bancários, foram os mais afectados, perdendo bens essenciais como alimentos, bebidas e telemóveis, além de sofrerem com a destruição de infraestruturas.
Nem mesmo as grandes cadeias de supermercados escaparam à fúria dos saqueadores. Uma trabalhadora do supermercado Arreiou, em Luanda, relatou o incidente que testemunhou na segunda-feira, 28 de julho: “Nós estávamos do outro lado. Só nos apercebemos quando ficou aqui muito cheio e os meninos e vizinhos ficaram a vandalizar o Arreiou, tirando todas as coisas, partindo os vidros da loja. Estamos mal. Estamos muito mal. Nem tenho noção. Graças a Deus, não fomos agredidos porque estávamos do outro lado e acho que eles não conseguiram dar conta.”
Enquanto alguns acusam a Polícia de ter falhado na proteção ao comércio, outros questionam o papel das seguradoras em relação aos danos avultados. A controvérsia promete acender um debate acalorado sobre segurança pública e responsabilidade.
Para João Mendes, proprietário de uma pequena mercearia no Bairro Prenda, o sentimento é de abandono.
“Eu perdi tudo. Anos de trabalho e sacrifício destruídos em poucas horas. Onde estava a polícia quando precisávamos dela? Sinto que fomos deixados à nossa sorte”, desabafa Mendes.
Já Maria Costa, analista de seguros e risco em Luanda, oferece uma perspectiva diferente. “É uma situação complexa. Muitas das pequenas empresas, infelizmente, não possuem seguros que cubram este tipo de danos por tumultos civis ou vandalismo. Mesmo as grandes, podem ter cláusulas que limitam a cobertura“, explica Costa. “É importante que as empresas e o próprio governo revejam as políticas de seguro e criem mecanismos de apoio para eventos desta magnitude, pois o impacto na economia é brutal.”
Os tumultos em Luanda não são apenas um incidente isolado; representam um alerta severo sobre a fragilidade social e económica do país. A pilhagem de alimentos, em particular, levanta preocupações urgentes sobre a segurança alimentar e a capacidade de abastecimento da capital angolana.
