Maputo (O Destaque) -A companhia de bandeira, há anos, tem sido palco de uma confusão que, segundo denúncias obtidas pelo Destaque, parece ter saído de um filme de terror, protagonizado por interesses financeiros e decisões que colocaram em risco a estabilidade da Linhas Aéreas de Moçambique (LAM). O analista político Hedson Massinga levanta o véu sobre o que ele descreve como um “filme de terror longo e assustador”, revelando os bastidores de uma gestão controversa e a luta actual para reerguer a empresa.
As denúncias apontam directamente para a gestão anterior, liderada pela consultora sul-africana Fly Modern Ark (FMA), e para o antigo Ministro dos Transportes e Comunicações, Mateus Magala. A entrada da FMA em Moçambique, recebida de forma triunfal, segundo Massinga, teria sido propositada, visando “garantir que os intentos dos parasitas e ‘nhonguistas’ tivessem uma fonte legal de exploração financeira”. A LAM, uma empresa já fragilizada, teria sido indicada a dedo para esse propósito, enquanto outras companhias, cientes dos riscos, se mantinham à distância.
Em 2022, a LAM operava com seis aeronaves, três das quais estavam sob um regime de aluguer (leasing), com a particularidade de que a manutenção e outras responsabilidades estavam a cargo da LAM. No entanto, o cenário mudou drasticamente com a chegada da FMA. A nova gestão comprou um avião que, segundo as denúncias, era sustentado por peças antigas e já acumulava dívidas de mais de 100 milhões de dólares. Massinga alega que os aviões alugados foram “sucateados” para cobrir os interesses do que ele chama de “gangue das raposas”.
A crise atingiu um ponto crítico com a acumulação insustentável de dívidas de aluguer. Os donos dos três aviões, modelo Q400, não obtinham qualquer resposta da gestão da FMA e, desesperados, chegaram a denunciar o roubo dos aparelhos à seguradora. Foi nesse momento que a nova gestão, em parceria com a Nighthood, entrou em cena, negociando as dívidas e a possibilidade de compra das aeronaves já sabotadas.
A nova gestão da LAM, ao adquirir essas aeronaves, evitou que a companhia fosse arrastada para os tribunais, o que teria resultado em perdas financeiras ainda maiores. A dívida e a manutenção de apenas um dos aviões, por exemplo, chegavam a 13 milhões de dólares. A decisão, embora arriscada, foi tomada para proteger a imagem e a viabilidade da LAM.
Massinga conclui a sua análise levantando uma questão: “Será que o ex-ministro tem coração?”. Ele aponta que a gestão actual tem enfrentado inúmeros obstáculos, incluindo o roubo de computadores com informações sensíveis, o que evidencia que “há uma gangue que não está a pegar sono”. A mensagem é clara: “a morte do devedor, não significa a morte da dívida”, por isso, o analista é peremptório na sugestão da responsabilização urgente da FMA e um inquérito ao ex-ministro dos Transportes e Comunicações, Mateus Magala, a quem se acredita ser possível responsável pela contratação da firma.
